Expectativa é de que ações do presidente eleito dos EUA direcionem investimentos chineses ao país, além de estimular alta nas commodities
Por: Altair Santos
Para 2017, o setor da construção civil no Brasil passa a conviver com mais uma variável que pode influenciar em seu crescimento. Trata-se do “fator Trump”. A vitória do candidato republicano nas eleições dos Estados Unidos é vista como uma incógnita no curto prazo, mas, no médio e no longo prazo, analistas entendem que ela pode ser benéfica. Uma das projeções é que Donald Trump endureça as regras para a China. Neste caso, entende Eurimilson Daniel, vice-presidente da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração), o capital chinês pode vir a procurar o Brasil. “Se os Estados Unidos fecharem portas para a China pode ser favorável ao Brasil, já que o país poderá atrair parte destes investimentos chineses, ainda que a economia brasileira represente apenas 1,5% do PIB mundial”, analisa.
Donald Trump: presidente eleito dos Estados Unidos pode facilitar atração de investimentos, desde que Brasil faça a lição de casa
Outra possibilidade é que Trump torne a economia dos Estados Unidos mais aberta às commodities brasileiras. Tradicionalmente, o partido Republicano, quando está no poder, desenvolve um livre comércio mais forte com o Brasil, principalmente na compra de produtos agrícolas. “Acho que as commodities brasileiras podem ganhar mercado nos EUA, o que, indiretamente, é bom para a cadeia produtiva da construção civil, já que o agronegócio tem sido um dos setores que mais investe em obras no país”, complementa Mário Humberto Marques, também vice-presidente da Sobratema. Para o dirigente, Donald Trump promoverá um “freio de arrumação” na economia mundial. “Acho que, desde que ele não cause conflitos internacionais e nem guerras, pode, sim, ser positivo para estimular a economia brasileira e, consequentemente, a construção civil do país”, diz Mário Humberto Marques.
Regras claras
No entanto, o “Fator Trump” terá menor influência na retomada do crescimento da construção civil do que a necessidade do país rever suas próprias regras para atrair investimentos e reativar obras de infraestrutura. “O Brasil usou recursos públicos sem critérios para estimular o crescimento e acabou exaurindo o BNDES. O que o país precisa agora é criar regras adequadas para resolver esses problemas em sua infraestrutura, mas sem artificialismos. São necessários bons projetos e segurança jurídica para atrair investimentos. Quanto menos governo, melhor. O papel do Estado deve ser regular e fiscalizar, e não o de tocar obra”, afirma Mário Humberto Marques. O dirigente da Sobratema avalia que, a partir do momento em que o país fizer essas correções de rota, o capital estrangeiro estará disposto a investir no Brasil. “Eles procuram bons negócios, mas também segurança para seus investimentos”, completa.
A expectativa do setor é de que no primeiro trimestre de 2017 possam ser divulgadas novas licitações para obras, como a ferrovia Transnordestina. Lançado em 2006, o empreendimento deveria ter 1.752 quilômetros, ligando Eliseu Martins, no Piauí, aos portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco. No entanto, apenas 600 quilômetros de ferrovia foram concluídos. Aguarda-se também, para o início do próximo ano, as privatizações dos aeroportos de Salvador-BA, Florianópolis-SC, Fortaleza-CE e Porto Alegre-RS. “Se essas obras atraírem capital estrangeiro será o sinal de que começamos a fazer a lição de casa para voltar a crescer. Daí, tomara que o ‘fator Trump’ também ajude”, diz Eurimilson Daniel.
Entrevistados
Eurimilson Daniel e Mário Humberto Marques, vice-presidentes da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração)
Contato
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Jornalista responsável: Altair Santos MTB 2330
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